25.2.07

A RAINHA DE TORHEM



Eglitz



Quando acordei, não conseguia entender nada do que estava acontecendo. Quase não conseguia abrir os meus olhos, pois um sol forte batia direto no meu rosto. Eu estava deitado em cima de uma espécie de padiola que estava sendo arrastada por alguém...

Lentamente fui abrindo os olhos, e com muito esforço fui enxergando a silhueta da pessoa que estava me arrastando.

Era uma mulher... Tentei me mexer, mas senti que estava amarrado, nas mãos e nos pés... Virei o rosto para um lado e percebi um imenso deserto de areia quente, que se desdobrava para além de onde a minha vista alcançava...

Ela percebeu que eu estava mexendo-me, e parou... Tirou as cordas que amarravam a padiola na sua cintura, e voltou-se em minha direção...

Do ângulo em que eu estava, na horizontal, e a mais ou menos uns cinco centímetros do chão, ela me parecia uma mulher enorme...

Agora eu pude vê-la com precisão... Calçava botas, que não eram exatamente botas e sim pedaços de couros enrolados nos pés e pernas até abaixo dos joelhos. As coxas estavam a mostras e vestia logo a cima mais um pedaço de couro furado e amarrado nas laterais com cordas... Na sua cintura trazia uma espécie de adaga...

Ficou parada junto a mim só olhando... Eu conseguia ver os seus pelos pubianos pelo rasgo do couro nas pernas... O suor escorria por entre a máscara que cobria o seu rosto... Ela curvou-se por sobre mim, e enxerguei os seus seios... Eu não conseguia-me sentir excitado, apesar da visão ser estimulante... Mas eu estava numa situação nada confortante... O calor estava muito forte, e minha boca estava tão seca que não conseguia articular nenhuma palavra.

Ela parecia nem ligar para os pequenos detalhes que eu havia observado no seu corpo... Meteu a mão em um pequeno alforje que carregava, e tirou na ponta dos dedos uma espécie de graxa viscosa, passando-a nos meus lábios...

Sem dizer uma palavra, retorna a posição inicial, coloca as cordas na cintura novamente e continua puxando-me...

A dor dos meus lábios passou um pouco, e o deslizar daquela padiola na areia me fez dormir novamente... Quando acordei, estava dentro de uma cabana na sombra e bem mais confortável agora.

A porta se abre, e a mulher entra com um pote de água e um copo pequeno, que depois fiquei sabendo ser feito de um talo de palmeira.

Ela enche o copo de água, e me da para tomar. Quando eu bebo o primeiro gole de água, ouve-se um barulho lá fora. A mulher sai como um furacão de dentro do pequeno quarto, fechando a porta com força.

Por uma fresta da parede de pedra, eu conseguia ver com um pouco de dificuldade o que se passava lá fora...
Contei dez cavaleiros, que logo fiquei sabendo serem mulheres montadas em suas éguas, e vestidas para guerra.
Cada uma portava uma espada na cintura, e cobriam parte do rosto com uma máscara de couro preto...
Uma delas fez um pequeno sinal com a mão direita, fazendo com que as outras parassem, enquanto ela seguia até em frente onde a mulher estava. Desde que havia chegado ali, pela primeira vez escutei um diálogo.

A mulher que havia me trazido, torce a espada para frente, e esbraveja:
- O que você quer aqui?
- Guarde a sua força Esha!...Viemos em paz – Responde a mulher a cavalo.
- O que você quer Dróra? – Insiste Esha.
- Ficamos sabendo que você conseguiu ultrapassar o portal, isso é verdade?
- O que eu fiz, ou, deixei de fazer não é da conta de ninguém – Responde Esha.
- Você sabe que não tem como esconder, pois as nossas guardiãs observaram tudo, e ainda nos contaram que você conseguiu trazer a prova. Isso é verdade minha irmã?... Por favor, deixe-nos ver?
- Eu ordeno que vocês saiam daqui agora!- Esha saca a espada da cintura, e as outras mulheres fazem um movimento para atacar, mas são detidas novamente por um sinal de Dróra.
- Deixe-na!... Espero que você saiba o que está fazendo Esha. Não podes querer esconder a verdade que há muito tempo procuramos. Você sabe do que estou falando... Eu voltarei aqui mais tarde sozinha, e sinceramente espero convencê-la a assumir as suas responsabilidades, as quais você reluta a assumir. – Dróra levanta a mão, e todas saem a galope.

Esha fica parada por um instante, depois se vira e sai do foco da minha visão...

Eu fiquei pensando, tentando concatenar os pensamentos. Não sei por quanto tempo fiquei assim imóvel, segurando aquele copo na mão.

Aquela mulher que havia me trazido até ali, agora eu sabia que se chamava Esha, e falava num idioma que eu compreendia...

De repente a porta se abre novamente, e Esha entra, agora sem a máscara no rosto. Que bela mulher eu podia ver agora!...

Ela havia tomado banho. O seu corpo exalava um perfume de flores de primavera... Os seus cabelos tremulavam ao menor sopro do vento, e eram como os cabelos de uma espiga de milho verde. Os seus olhos azuis, e sua pele tão alva que quase a tornava transparente...

Trazia um pano colorido enrolado ao seu corpo, que cobria os seios, ventre e parte das coxas... Ela sorri para mim, estendendo o braço para pegar o copo da minha mão... Eu a chamo pelo nome:
- Esha!...Então esse é o seu nome?
- Sim. Você deve tê-lo escutado daqui...
- Sim, e o meu é... – não terminei de dizer o meu nome por que Esha me interrompeu.
- Eu sei qual o seu nome, não precisa me dizer. Eu só quero que você escute o que eu tenho para lhe dizer. – Ela me fala sentando ao meu lado na esteira.

Depois continua.

- Eu vivo sozinha aqui neste oásis, que descobri já há algum tempo... Retirei-me da civilização para viver aqui por opção mesmo, por não agüentar as mesmas ladainhas de sempre...
- Que lugar é esse? – perguntei-lhe.
- É Torhein... Você vai estranhar, pois o seu mundo é totalmente diferente deste... Aqui só tem mulheres. E todas perseguem o mesmo objetivo: fazer com que a lenda se torne realidade.
- Lenda?
- Sim. Aqui existe uma lenda... Um dia uma mulher atravessaria o portal, e traria consigo um homem que a ajudaria devolver a normalidade ao nosso mundo. Mas essa mulher não seria uma mulher qualquer. Pela lenda, se ela conseguisse atravessar o portal e sobreviver, juntamente com a prova, ela teria que ser coroada rainha de Torhein, pois então ela seria a filha da Rainha mãe, a princesa desaparecida.
- Você foi a primeira a cruzar o tal portal?
- Sim.
- E que diabos é esse portal?
- Esse portal fica ao norte daqui... Você deve lembrar que percorremos um longo caminho pelo deserto... Eu não estava a pé. Estava a cavalo na minha égua, mas os guardiões do portal a mataram me deixando a pé... Eu observei por muito tempo o portal. Então descobri que ele ficava aberto por algumas horas sempre na lua nova... Eu decidi que entraria... Por duas vezes consegui entrar e voltar sem ser vista, mas na terceira vez, eu trazia você. Demorei-me um pouco a mais que das outras vezes, então eles me pegaram... Eu lutei com eles por muito tempo... Sempre tendo o cuidado de te proteger, pois estavas inconsciente. Isso era só para te livrar de morrer... Eles mataram a minha égua, tornando a minha aventura mais penosa... Tive que carregá-lo nas minhas costas por um longo caminho... Depois consegui fazer aquela padiola. Essa é a história. Por isso está aqui.
- Então você me seqüestrou?...E o que pretendes fazer comigo? Você quis provar que poderia tornar a lenda realidade?
- Não sei por que fiz. Talvez para saber se realmente era possível sobreviver ao atravessar o portal...

Ao saber que ela havia lutado tanto para sobreviver, e ter me protegido tão bem, senti ternura naquela mulher, mesmo com aquele jeito de guerreira, ela me passava muito afeto e a certeza de que era especial.

Nem um de nós nota a presença de Drora na penumbra, escutando toda a história que Esha me contava.

Então ela sai e:

- Muito bem Esha, e ainda duvidas que realmente sejas a escolhida? – Soa a voz de Dróra...
Dróra aproxima-se de mim parecendo maravilhada com a visão. Ela era uma mulher muito bonita também, um pouco mais morena que Esha. Apalpa-me, passando a mão na minha cabeça, e rosto, diante do olhar aflito de Esha. Eu podia sentir que ela não estava gostando nada.

Depois Dróra pergunta:

- Já aconteceu?
- Ainda não. – Esha responde imediatamente.
- Então vocês terão esse resto de dia e noite, e amanhã você retornará a cidade. É assim que vai ser. – Foi a ordem de Dróra. A qual Esha assentiu.

Esha leva-me para conhecer o seu oásis, era um verdadeiro paraíso...


Depois andamos a cavalo e brincamos como se fôssemos duas crianças, deitando e rolando pela areia... Comemos frutos exóticos do lugar...

À noite deitados na areia contemplamos as estrelas e a lua no céu...

Esha dançava como se escutasse uma música, a qual eu não conseguia escutar...

De repente ela atira-se sobre o meu corpo, e comanda o mais excitante ato de acasalamento...

Com a luz da lua sendo refletida nos seus olhos e pele, ao olhar para ela cavalgando o meu corpo, eu via uma deusa...

No outro dia, várias mulheres guerreiras a cavalo, seguiam uma carruagem de ouro que nos conduzia até a cidade...

Uma multidão nas ruas dava viva a rainha de Torhein...

Chegamos a um imenso palácio, e fomos conduzidos aos aposentos reais...

Esha participou de um grande cerimonial, e mostrou-me a grande multidão... Depois voltamos para o quarto...

Ela portando a sua coroa de Rainha agora, é simplesmente divina... Abraça-me e me beija...

Depois com lágrimas nos olhos, mas ainda sorrindo, demonstrando estar feliz, ela me agradece por tê-la ajudado na sua missão... Depois me diz que devo retornar ao meu mundo...

Então sinto me afastando dela... Vai ficando cada vez mais distante... Distante... Distante, até desaparecer...

Então eu acordo...

Percebo que estou não em Torhein, mas deitado na minha cama, aqui mesmo neste mundo cheio de mazelas...

Consulto o relógio: são 04h15min, e ainda o dia não clareou... Viro-me para o outro lado, para ver se ainda consigo continuar sonhando com a minha Rainha de Torhein...
Fim

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