25.2.07

INCANDESCÊNCIA NEURAL



Eglitz

Na incandescência neural, esquecendo-me da minha condição humana esquálida, eis que surge diante mim a figura de Doara com olhos relampejantes como aurora boreal...

As franjas do seu vestido incosturado balanceavam com o vento da tormenta que se abatia no mundo das ilusões, e roçavam sobre o meu rosto paralisado de terror...

A esdruxuliante figura passeava em minha frente deixando-me cada vez mais pasmo...

Eu sabia, a sua voz não se fazia ouvir externamente, porque o meu frágil sistema auditivo não suportaria tamanha estridência... Ela comunicava-se comigo através de ondas mentais...

A sua apavorante presença ali, só trazia-me a certeza de que eu era um mísero ser que no momento era digno de pena, e que muitas vezes na minha ignorância tinha surtos apolíneos...

O meu ego esfacelava-se sem ser pisado, simplesmente pela visão esfoliante...

O meu frágil corpo dava sinais de não querer ficar em pé... Os meus dentes e joelhos batiam um no outro e eu deixava escapar um fio de gemido da minha garganta, pela fria dor, do pavor que me assaltava...

Secou em mim aquilo que orgulhosos humanóides chamam de vida. O líquido vermelho já não circulava mais pelos dutos do meu corpo... Os meus olhos já não se movimentavam mais em suas órbitas e estavam imprestáveis pela disopia... Mas a visão de Doara estava em minha mente...

Ela aproximou-se de mim e meteu os dedos em minha boca, e arrastou-me como arrasta um ramo quebrado... Os meus olhos ainda conseguiam contemplar no céu as estrelas como pequenos pontos brilhantes ao longe, muito longe, enquanto minhas pernas tremiam e saltitavam ao bater em alguma pedra...

A minha consciência resumia-se em um pequeno foco de luz entre meus olhos... Dali eu raciocinava e contestava todos os tipos de bondade que possivelmente pudesse existir entre os seres poderosos do universo...

Arrisquei perguntar-lhe enquanto me arrastava – porque agia daquele jeito com uma criatura tão indefesa? – Ela rodopiou-me várias vezes no ar e me lançou em direção a um paredão de rochas, onde eu podia ver logo a baixo somente escuridão em um abismo sem fim...

Novamente os seus olhos relampejaram, e ela veio voando em minha direção, e com o dedo em riste bradou:

- É por causa do seu ego que é do tamanho do universo, criatura abominável!...

Mesmo diante do meu medo arrisquei perguntar-lhe:

- Porque sou tão abominável?...Porque me castigas na minha insciência?...

Doara me responde com a mesma indignação:

- A minha vontade não é só de castigar-te, e sim, de exterminá-lo para sempre! Vocês vêm de muito longe estragando tudo por onde passam. Infelizmente não posso matá-los, pois são imortais que se escondem dentro de corpos frágeis e falíveis, que ao menor sinal de fraqueza vocês pensam em abandonar e fugir para outro corpo, pois são covardes. Ainda bem que descobri quais são os seus medos, ser desprezível! Vá, Sinta o pavor da escuridão!!!...

Doara me lançou rumo ao abismo sem fim...

Quando acordei ainda soavam em minha mente as suas palavras, e minha mente estava confusa com palavras e frases desconexas.
Fim

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