21.4.07

Para que palavras...

Eglitz

Para que palavras para trair, se só basta sentir?
Para que palavras para expressar um sentimento,
se os olhos denunciam o que se passa por dentro?
Para que ter medo de sentir o que está lá bem no fundo,
se a paixão é um sentimento que afeta todo mundo?

***
Nem uma palavra sussurrada, somente os seus olhos procuravam-se em meio à multidão.
Nem um pedido verbalizado, somente um aceno com a cabeça; e uma leve indicação com os olhos, àquela placa que mostrava a porta do motel.
Não precisavam de palavras para expressar o que estavam sentindo. Nada poderia impedir que seus corpos inflamados de paixão saciassem um ao outro.
Os seus corações pulsavam intensamente, pela ansiedade e necessidade que sentiam para sorverem o mesmo copo da paixão.
Paixão que os embriagava a ponto de perderem todo o medo e timidez. Paixão que os fazia esquecerem de toda a moral e bons costumes. Paixão tão intensa, que fazia ela desnudar-se perante aquele homem, que há bem pouco tempo lhe era estranho, mas que agora fazia parte constante dos seus pensamentos.
Como ela doava-se ao seu amado! Com tanta volúpia, que imaginou: “se morresse agora, estaria feliz”.
Para ele também era tudo diferente. Nunca havia traído; e, jamais teria acontecido se não fosse com ela.
Era tão bom estar sendo literalmente sugado, por aquela mulher que demonstrava tanta paixão por ele. Ele sentia-se tão seguro nos braços de sua amada.
Mas o relógio indicava que o tempo combinado estava findando. Eles precisavam acabar com o sonho, e despertar para a rotina conjugal de sempre, que os aguardava.
Novamente os celulares são ligados, e ambos rumaram cada um para sua casa; ela com um sorriso de felicidade estampado no rosto, mas ainda antes de despedirem-se, dá-lhe um beijo e sussurra: “obrigado! Adorei... Você foi demais!”.
Mesmo que ambos quisessem aquela paixão não acabaria ali. E com certeza voltariam muitas vezes naquele mesmo lugar, atendendo um pedido dos seus corações - que seus lábios não sabiam expressar - mas os seus olhos conseguiam entender perfeitamente o que os seus desejos pediam.
E eles voltaram muitas vezes àquele lugar para viverem momentos inesquecíveis.
À vontade que tinham era de continuarem assim por muito tempo, talvez pelo resto da vida.
Mas a paixão é uma coisa perturbadora. Ela tira o sossego. Ela faz ficar com insônia. Faz se revirar na cama, e se dormimos com alguém, poderemos acordá-lo.
Foi o que aconteceu com ela. De tanto que se revirou na cama, acabou acordando o seu marido.
Ele não lhe perguntou nada, mas fingiu que dormia.
Quando ela levantou como se fosse ao banheiro, ele simplesmente a seguiu.
Ela não agüentava mais a saudade do seu amado.
Pegou o celular e ligou para ele. Precisava vê-lo. Combinaram que no outro dia, no lugar de sempre haveria mais um encontro.
O marido escutou tudo. Mas ficou quieto. Engoliu a raiva. Ainda fingia dormir quando ela voltou para a cama.
No outro dia, no mesmo quarto de motel que da primeira vez eles amaram-se; novamente os seus corpos inflamados pela paixão e desejo, entregavam-se sem escrúpulos.
Ao mesmo tempo em que a taça da paixão e volúpia era sorvida pelos dois amantes, o marido dela, enfurecido pelo ciúme e a raiva, subia as escadas do motel. Ameaça a atendente, obrigando-lhe a indicar o quarto que eles estavam. Ninguém podia evitar a desgraça.
A porta é arrombada por uma força descomunal, movida por ciúme, raiva e sede de vingança.
Na cama, os dois estupefatos pelo susto. Suas faces enrubescidas pelo flagrante, não conseguem evitar que seus corpos suados e nus sejam vistos por aqueles olhos que trazem um brilho letal.
Dois estampidos são ouvidos, e dois corpos fenecem abraçados encima de uma cama de motel.
É o fim de uma paixão, que aos olhos e pensamentos de alguém era proibida.
Pela vontade de um homem, eles mereciam morrer. Esqueceu este homem, que pelo seu ato, lhes concede a liberdade total para amarem-se, no mundo dos amantes para sempre.
“O amor é forte como a morte, e o ciúme é cruel como o inferno; uma verdadeira labareda de fogo”.
FIM

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