2.3.07

UM PESADELO NAS FÉRIAS



Eglitz


A menina Tassiana, com dezesseis anos está transbordando de felicidade. Ela está arrumando a sua mala, vai passar as férias no sitio dos seus avós materno. Tassiana viveu ali os seus primeiros sete anos de vida.
Enquanto ela arruma a mala, as lembranças daquele tempo lhe vêm à mente.
As primeiras imagens são as dela mesma. Uma menininha de cabelos encaracolados, de vestidinho rosa com bolinhas pretas; que corria livremente pelos gramados; subindo em árvores e assustando pássaros.
Tassiana era parceira inseparável de Vinícius, seu amiguinho, ao qual chamava de Vini.
Só em pensar, que ela iria reencontrar o Vini, lhe deixava felicíssima. “Agora ele deve estar lindo”, pensou. E isso fazia o seu coração acelerar. Ela estava decidida: iria fazer amor pela primeira vez na vida, com o Vini.
Mas uma coisa Tassiana não gostava no Vini do passado: ele não sabia ficar quieto ao seu lado. O prazer dele era a ver correr para lhe alcançar, e depois rolarem pelo gramado.
Passavam o dia correndo pelo gramado, subindo em árvores e andando pelas areias do riacho que passava nos fundos do sitio.
Às vezes, ela e o Vini brigavam, mas as suas brigas nunca foram muito sérias, porque sempre no outro dia já estavam grudados novamente, como se nada tivesse acontecido.
Tassiana lembrou que um dia, havia ficado chateada com o Vini, porque ele não prestou atenção nela. Havia se produzido toda; até colocou uma flor no cabelo; esperando que ele a notasse, e falasse que ela estava bonita. Mas o Vini não disse nada do que ela queria ouvir; e ainda acabou roubando a sua flor, para que ela saísse correndo atrás dele. Mas ela ficou emburrada e foi para dentro de casa, e não falou mais com ele aquele dia. No outro dia já nem lembrava mais do que havia acontecido.
Tassiana não fazia idéia do que iria acontecer agora, mas de uma coisa ela tinha certeza: estava radiante!
Quando ela se deu conta, já estava no ônibus de volta ao interior; e a cada hora que passava, ela sentia-se mais feliz.

******


O sol começa despontar atrás dos montes. Ao ver a cidadezinha toda iluminada, as pessoas que vão chegando, deslumbram-se com o visual.
Um dos ônibus traz Tassiana; que simplesmente fica tomada de êxtase ao ver de longe a beleza da cidade.
A viagem foi longa, mas Tassiana não se sentia cansada, pois havia dormido no ônibus. O seu avô já estava lhe esperando na rodoviária. Ela lembrava com saudades quando era convidada por ele a andar em sua charrete.
Quando ela viu ali a velha charrete, não resistiu. Os seus olhos encheram-se de lágrimas; correu ao encontro do seu avô, e o abraçou com força. Ficou por algum tempo assim, como que para matar a saudade de tantos anos. Em seguida já estavam na estrada de volta ao sitio.
A sua avó os esperava inquieta em baixo dos arvoredos. Quando o avô de Tassiana parou a charrete ela saltou, e correu para os braços de sua avó. Abraçadas, elas choram por algum tempo; depois, enxugando as lágrimas, foram conversando para dentro da casa.
Tassiana elogiou a beleza da sua avó, e, piscou um olho para o seu avô; querendo que ele confirmasse o que ela havia dito. Ele deu um sorriso, e fez um leve movimento com a cabeça; num gesto afirmativo.
Tassiana quis saber de Vinícius, e estranhou, por ele não estar lhe esperando. A sua avó lhe conta que ele foi ao velório de um tio com o seu pai. A avó de Tassiana percebe uma leve frustração em seu semblante; e acariciando a sua cabeça, diz: “não fique chateada filha, vocês terão muito tempo para ficarem juntos”.
Tassiana tentou não dar muita importância para o pequeno transtorno. Só o fato de estar pisando novamente naquele chão que lhe vira nascer e crescer, já lhe deixava feliz. Nada podia estragar esse momento. O que ela mais queria agora era desvencilhar-se de sua calça jeans; e colocar o vestido que mandara fazer; parecido com aquele que usava, quando criança.
O avô de Tassiana trouxe a sua mala para o quarto. Ela ficou parada, olhando ao redor. Havia uma cama, agora, para seu tamanho é claro, mas Tassiana ainda encontrou ali muita coisa que havia deixado quando partiu com a sua mãe. Alguns ursinhos de pelúcia, caixinha de música, e adivinhem! O vestidinho de bolinhas, bem dobradinho em uma gaveta. Ela quase não podia acreditar que a sua avó o havia guardado. É claro que agora não lhe servia mais.
Quando segurou o velho vestidinho na mão novamente, o filme da sua infância tornou a repetir-se. E a lembrança mais vívida era: ela e o Vini; nos arvoredos... Nos gramados... No riacho. Mas a voz de sua avó trouxe-lhe de volta a realidade, dizendo-lhe que iria retornar a cozinha, para terminar o almoço.

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Já com vestido e pés descalços, Tassiana desliza pelo gramado, como que ao som de uma melodia. Com seus cabelos soltos ao vento, ela flutuava de tanta alegria, respirando aquele ar puro.
Depois de andar pelo gramado, foi matar a saudade das areias fresquinhas do riacho... Ali estavam elas; tudo ali parecia igual como deixara. Tudo era igual, só ela havia mudado. O seu corpo, a sua mente. Ela agora não é mais aquela menininha. Já é capaz de decidir o seu futuro, aliás, já havia decidido o seu futuro sexual. Iria entregar-se ao Vini, e com certeza casaria com ele, “nada poderá impedir”, pensou.
Tassiana foi despertada abruptamente das suas reflexões, por estalos que vinham do meio dos arbustos. Parou... Virou-se para olhar... Não havia ninguém. Quando se propôs a continuar a caminhada pela areia, um calafrio percorreu o seu corpo todo.
Em sua frente, um homem enorme, barba por fazer, cabelos desgrenhados; roupas sujas; e um cheiro fétido, exalava do seu corpo; os olhos brilhavam feitos tochas, e nos lábios, um sorriso diabólico.
Tassiana jamais pensou que haveria de ter tanto medo de um homem; mas alguma coisa dentro dela, dizia-lhe, bem alto e claro, que estava correndo perigo. Pensou em correr, mas o local não lhe permitia fazer isso. Ele deu uma gargalhada, talvez por notar que ela estava tremendo.

******

“Nem pense em correr ou gritar, que vai ser pior”. Ao dizer isso, o homem investiu contra ela como uma fera que caça a sua presa.
Com um empurrão ele a joga ao chão. Com o impacto ela caiu com as pernas semi-abertas, e o seu vestido subiu um pouco, deixando as suas coxas a mostra.
Bem que Tassiana tentou, mas não conseguiu se recompor instantaneamente perante aquele estranho. Ela fitou o seu rosto, e percebeu que ele a olhava extasiado, e os seus olhos brilhavam ainda mais.
Uma de suas mãos desceu até o pescoço de Tassiana, enquanto a outra, num só puxão arrebentava a sua calcinha que foi jogada para longe, e desceu lentamente pelas águas do riacho.
Agora ela estava ali, a mercê de um ser estúpido e brutal, que não tinha escrúpulos nem pudor de machucar alguém tão indefesa.
Tassiana estava sendo estuprada por um maníaco, jamais imaginara que isso pudesse lhe acontecer.
Tantos planos, tantas fantasias para sua primeira vez com o Vini, e agora: tudo isso desfeito.
Tassiana sentia o cheiro horripilante daquele homem, que esmagava o seu corpo como se fosse um bloco de rocha fria. Aliás, ela pensou: “ele não é um homem, e sim um animal”.
Com um gemido estridente ele assinalou o momento em que penetrou em seu corpo.
Como que com uma lança de aço, ele rasgou as suas entranhas; e as lágrimas que escorriam silenciosamente pelo rosto de Tassiana, denunciavam a sua dor.
O seu frágil corpo sendo embalado com sofreguidão lancinante, quase que era enterrado na areia.
Neste embalo infernal, Tassiana tem a sensação de escutar uma voz dentro de si; condenando-lhe, criticando, e questionando todas as suas crenças e perspectivas na vida.
É uma voz suave, e ao mesmo tempo forte, que ecoa em sua cabeça.
Quanta frustração Tassiana está experimentando agora. Tão bonita, e tão preparada para receber o homem da sua vida, e veja o que está acontecendo. Com certeza, isso não é o amor que ela imaginava, e sim, o maior suplício de sua vida.
Que tipo de aprendizado ela poderia Ter dessa situação?
Parece que a voz lhe respondia: “que as pessoas aprendem muito mais com a dor, do que com o prazer”.
A voz crescia cada vez mais, e parecia que Tassiana saiu flutuando do seu corpo para um outro lugar; e nesse lugar, ela tem a sensação que está mais segura, já não sente mais o seu corpo, só escuta a voz agora que lhe diz:
“A dor costuma ensinar os orgulhosos, e até mesmo, os mais humildes aprendem mais com ela... o prazer é efêmero; ele se volatiliza muito depressa; e o que se vive hoje pelo prazer, talvez amanhã, já nem se lembre mais... A dor não. Tudo o que você aprende com ela, nunca mais esquece. Jamais se aprende a perdoar pelo prazer, e sim somente pela dor... O perdão é o mais precioso Dom que alguém pode aprender usar... A dor esmiúça o mais duro dos egos, e permanece bem viva e consciente por muito tempo. Só o perdão é capaz de curar as feridas deixadas pela dor... Nem a morte poderá cicatrizar as feridas deixadas pela dor. Só o perdão... Só o perdão... Só o perdão...”.


A frase, “só o perdão”, repetia-se lentamente em sua cabeça; e depois, foi sumindo, e parecia que a luz e as suas forças lhe abandonavam e então, Tassiana perdeu os sentidos.
Quando a sua consciência retornou, ela estava sozinha. Aquele homem já não estava mais em cima dela. Com certeza pensou que ela havia morrido, e fugiu como um covarde que foi.
Por um momento Tassiana não sentiu a suas pernas. Mas lentamente foi recobrando as suas forças e então pode levantar-se. O sangue jorrava de dentro dela.
Com muito esforço ela conseguiu chegar até a casa. Os seus avós ainda estavam dormindo, como sempre faziam todos os dias depois do almoço.”Ainda bem” ela pensou, pois não queria os assustar.

******

Decidida a não contar nada do que havia acontecido a seus avós, Tassiana procurou agir normalmente, tentando não despertar suspeita alguma.
Foi difícil esconder a dor que estava sentindo em seu corpo e na sua alma. E a dor da alma era bem maior.
A revolta, a tristeza e o ódio que ela sentia por aquele homem que havia dilacerado o seu corpo eram tão intensos, que Tassiana não pensava em outra coisa se não a vingança.
A voz que ela havia escutado no momento do estupro, ainda ecoava em sua cabeça. O seu desejo de vingança ia de encontro ao que a voz lhe dizia. Ela repetia mil vezes: “ele deve morrer”, e a voz refutava dizendo-lhe: “Só o perdão... Só o perdão”.

******

A avó de Tassiana chamou-a para tomar o café da manhã. Quando chegou a mesa, percebeu que ela e seu avô conversavam alguma coisa que lhe chamou atenção.

- Desculpe-me vovó, mas escutei alguma coisa sobre assassinato?
- É um boato filha, que seu avô escutou na vizinhança. O filho do Sr. Gustavo matou a mulher e o filho, e estava preso; dizem que fugiu da prisão e anda pelos arredores, mas eu acho que é só um boato mesmo.

Mas o avô de Tassiana retrucou.

- Não sei não minha velha. Hoje em dia tudo é possível. E se esse rapaz fugiu mesmo da cadeia, pode esperar mais tragédias; pois ele jurou que mataria os sogros. É uma pessoa medonha. Se ele fugiu mesmo, vai cumprir o que prometeu.
Tassiana não precisava especular mais nada. Com certeza, foi essa fera que ela havia enfrentado.
Enquanto os pensamentos fervilhavam em sua cabeça, escutaram as sirenes da policia e ambulância, que passavam na estrada perto do sítio. Quando isso acontecia no interior, é porque alguma coisa grave havia acontecido.
A curiosidade era tanta, que os três não conseguiam sair da janela; e então avistaram os carros indo em direção a casa dos sogros do filho do sr Gustavo. O avô de Tassiana a convidou para irem até lá para verem o que aconteceu.
Quando chegaram ao local, depararam-se com uma sena terrível. Os dois velhos estavam mortos e degolados.
O tumulto era tanto, que a policia estava colocando ordem, e proibindo que as pessoas se aglomerassem.
A policia interrogava varias pessoas. Queriam saber se alguém havia visto algum suspeito. Mas as respostas eram todas iguais: ninguém havia visto nada, mas todos eram unânimes em afirmar, que possivelmente era o genro que tinha feito aquilo.
A policia ia fazer buscas em toda a região, mas Tassiana pensou consigo mesma: “a policia do interior, quase sempre está despreparada, com certeza isso não vai dar em nada”.
Tassiana começou a pensar que aquele lugar não era mais seguro para ela. Decidiu que voltaria para a capital no outro dia.
Voltaria se não acontecesse alguma coisa que a fizesse mudar de idéia. O seu avô avisou-lhe que precisava voltar para casa, pois tinha que trabalhar em sua forrageira.
Tassiana ficou por ali ainda algum tempo, e então resolveu voltar também. Quando ela retornava em direção a casa dos seus avós, uma vós lhe chamou lá em cima.
Quando se virou para traz, para ver quem lhe chamava, quase gritou de alegria; era o Vini que vinha ao seu encontro. Mas sufocou o grito na garganta... Ficou parada, esperando aquele homem que corria em sua direção. Sim, o seu Vini havia crescido e se tornado um belo rapaz.
Tassiana pensou em correr para ele também, e lhe dar um longo abraço e beija-lo. Mas alguma coisa lhe segurou. A lembrança do medo e a tortura que ela havia passado, travaram as suas pernas.
Quantas vezes ela havia sonhado com esse reencontro, e agora ela não podia fazer nada do que tinha planejado, porque alguma coisa mais forte lhe segurava. Era a dor da sua alma.
Vinicius estendeu os braços para Tassiana, mas ela ficou imóvel, só olhando para ele. É claro que ele surpreendeu-se com a sua atitude. Qualquer homem notaria aquele gelo.
Para Vini, aquela moça linda que estava em sua frente continuava sendo a Aninha; pois era assim que ele sempre lhe chamava. Mas ela estava maravilhosa agora. A vontade que ele tinha era tomá-la nos braços, mas estava frustrado pela acolhida, que perguntou:

- Está tudo bem Aninha...? Você não está feliz por me ver?
- Oh sim! Que idéia é essa Vine?... Claro que estou feliz por te ver; é que estou um pouco surpresa, você cresceu tanto!... Quase não te reconheci.
- Pois eu te reconheceria em qualquer lugar que te encontrasse, sabe?
- Oh, Vini, não começa, ta? Não vamos brigar como quando nós éramos crianças, né?...
- Claro que não, Aninha, eu só estava brincando... Mas é verdade. Eu te reconheceria de longe só pelo teu jeito de andar... E quando eu chegasse mais perto eu teria certeza que era você, olhando nos teus olhos... Sabia que sonho contigo todas as noites?
- Desde quando você se tornou um galanteador hein?

- Quer saber mesmo?...Desde que você foi embora. Foi quando comecei a sentir saudades de você... Eu ficava imaginando, o que dizer a você quando nos reencontrássemos... Poderia ter dito tanta coisa quando estávamos juntos, mas não disse. Agora quero te falar...
- Nós éramos tão crianças, não entediamos o que se passava conosco...
- Eu sei, Aninha... Mas agora, sei bem o que quero...
- E o que você quer agora Vini?...
- Quero coisas diferentes das que eu queria quando tinha oito ou nove anos... Sabe, agora entendo muita coisa que não entendia antes...
- O que, por exemplo?
- Quando você me pedia para ficar quietinho ao teu lado, deitado na grama, olhando a lua e as estrelas, eu não sabia o quanto era importante para você. Hoje eu sei. Porque também isso é importante para mim agora... Quantas noites eu fiquei sozinho, nesse mesmo lugar, olhando as estrelas e a lua, e desejando que você estivesse aqui comigo... Mas você não estava... Então eu pedia para a lua e as estrelas não deixar você me esquecer, porque eu jamais iria esquecer você...
A voz de Vine fica embargada, e quando Tassiana olha para ele, observa que seus olhos estão molhados. Realmente ele estava abrindo o seu coração a ela.
O brilho dos olhos de Vini era diferente dos olhos daquele outro homem que a havia violentado. Os olhos de Vini brilhavam com amor, com ternura. Ele não precisava lhe dizer mais nada. Ela sabia que desejava lhe abraçar e beijar. Então para que resistir pensou. Ali mesmo abraçaram-se, e deram o seu primeiro beijo de amor.

Tassiana precisava ser forte. Ela precisava vencer aquela barreira que havia se instalado dentro dela. Decidiu por ela mesma, que aquele mal não podia lhe manter aprisionada no passado, e privar-lhe de usufruir o que a vida lhe oferecia. Prometeu a si mesma, que não contaria a ninguém o que havia lhe acontecido, mas também não deixaria de viver cada momento.
Chegaram a esquecer a tragédia que havia acontecido. Naquele instante, até aqueles momentos ruins que Tassiana tinha passado pareciam não existir. O mundo agora era só seu e do Vini.

******


A tarde estava quente, o sol brilhava forte. Tassiana e Vini sobem pelo trigal, até a uma arvore grande; e então ficam ali, conversando, e relembrando tudo o que os dois viveram quando crianças.
De onde eles estavam, avistavam lá embaixo o balneário. Lembraram também, que muitas vezes o Sr. João que cuidava do local, os deixava nadar nas piscinas. O Vini teve a idéia de irem até lá. Com certeza o Sr. João ficaria contente de rever Tassiana. Ela aceitou o convite. Aliás, estar na companhia do Vini era o que ela mais queria.
Quando chegaram o portão estava aberto. Entraram, e o Vini chamou pelo Sr. João, mas não obteve resposta. Como o lugar era enorme, ele deduziu que estivesse fazendo algum serviço nos fundos. O Vini sempre estava por ali. Até mesmo ajudava o sr João na limpeza do lugar. Com certeza ele não se importaria se eles fossem nadar um pouco.
Um minuto depois, os dois estavam nadando em uma das piscinas. O Vini só de cuecas, e Tassiana só de calcinhas.
Tassiana não estava tão à vontade como quando era uma menininha. Agora ela com os seios a mostra, e o Vini a olhando, realmente ela se sentia meio sem jeito.
O Vini aproximou-se dela, a tomou nos braços, e a beijou novamente. Novamente um turbilhão de calor e desejo os envolve, e parece que o mundo todo deixa de existir, dando lugar àquela paixão tão intensa.
De repente uma voz, soa de traz dos galpões, lhes trazendo a realidade.

- Hei rapaz!... O seu João está te chamando aqui em cima!
Os dois se assustam com aquela voz. O Vini sai rapidamente da água, e coloca as calças, e pediu que Tassiana o esperasse ali.

- Depressa rapaz, o senhor João precisa da tua ajuda!...
Tassiana tem uma péssima sensação. Quando Vini se afasta, o seu corpo sente um arrepio. Coloca o seu vestido, e segue vagarosamente atrás dele.
Ela escuta barulhos em um dos galpões. Segue com cuidado naquela direção... Ela fica estarrecida quando vê por uma das frestas, o mesmo homem que a havia violentado, apunhalando o Vini, e depois passando a faca em seu pescoço...
Tassiana não conseguia gritar e nem correr. As suas pernas começaram a tremer. Só o fato de pensar que teria que ficar sem o Vini, lhe traz um desespero imenso na alma. À vontade que tem, é de se entregar; chamar o seu algoz, e pedir que de um fim em seu sofrimento. Mas uma coisa dentro de si cresce mais que o desespero. E ela pensa que só resta uma coisa a fazer: lutar pela sua vida se quiser continuar vivendo. Mas se tiver que perder a sua vida para parar esse demônio, então ela morrerá por isso. Ela precisava pensar e agir depressa. Aquele maníaco, não iria lhe poupar agora. Com certeza a sua sede de morte não ia parar por ali. Alguém tinha que pará-lo.
Tassiana encontrou um pedaço de cano galvanizado que serviria para se proteger. Ficou posicionada na saída da porta. Tinha que agir rápido.
Quando ela notou que a porta estava abrindo, reuniu todas as suas forças e se lançou como uma fera contra o crápula. Deu-lhe uma pancada na nuca, que o deixou meio atordoado. Enquanto ele tentava organizar os pensamentos, recebe outra pancada, e mais outra, e mais... Tassiana está transtornada, e desfere golpes e mais golpes, e quase nem percebe que ele já está desmaiado aos seus pés.
A sua vontade é de cortar o seu pescoço, mas não quer carregar essa mancha em sua alma. Então o amarra bem, que até a própria policia teria dificuldade para lhe soltar.
O coração de Tassiana está dilacerado pela perda do seu amado. Ela caminha como autômato em direção a um telefone público, e comunica a policia sem identificar-se; e foge para a casa dos seus avós.
No outro dia enquanto retorna a capital, Tassiana ouve no radio do ônibus, uma música que diz: “os bons morrem jovens...” Ela lembra do Vini. E sabe que não conseguiria ficar nem mais um minuto ali. O seu sonho havia virado pesadelo. Acabaram os sonhos daquela menina que tinha vindo com tantos planos. Ela leva de volta, um coração inchado pela dor da perda.

Infelizmente, nem sempre as histórias têm um final feliz.

FIM

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